segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Poema habitado



E se o mundo não fosse escuro
antes de você chorar?

Aqui estão minhas mãos
como uma mesa posta.

Balança o mundo sob seus pés
caem suas lágrimas
como o sopro de um machado.

O que pode o poeta
contra lágrimas que não se aquecem?

Com horário marcado
saímos.
Cruzamos a cidade
e a impaciência dela
seguia como um adversário de seu sorriso.

A noite cedeu uma lua particular
e continuamos.

A pele dela
um terraço de acontecimentos
e o cigarro devorava a tristeza que ela sentia
virando música entre seus dedos.

Foi com um chiclete que ela me deu
que eu conheci as canções de um terreno por Santo André.
O caminho até a boca dela
frescor rasgado pela anatomia das frutas
em cores que trabalham.

Debaixo de cada lágrima
um ponto de partida
uma rota de precipício
e a solidão pregada na parede
como um santo padroeiro
abençoando os peregrinos.

Eis que eu reclino os dias frios
e novos ossos protegem seu coração
de palavras selvagens
de quem aprisiona sua subida ao céu dos Homens.

Concentrado
sou como uma igreja aos pobres
sou como a raiz de nossa mãe que nos protege.
Uma flor decifrou o segredo de um anjo
seus olhos apertados decifram o segredo do instante.

Confia.

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