segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Poema 3





Certa vez te esperei
deixei minhas palavras em prontidão.

Foi uma vida
por um sorriso.
O tempo de uma espera.
Infeliz quem não cultiva horas.

Certa vez
imaginei seu sorriso pelo corpo
e apenas por imaginar
foi Carnaval sem data marcada.
Tinha frevo e tango
e crianças brincando
e as cores tinham nomes de bala.

Eu quis escrever um livro sobre cores
porque as cores novas
estas sim
tinham o carisma do seu sorriso.

Não me importava que as cores fossem verde ou laranja
as cores  conduziam exemplos
e me alertavam como um conselheiro sábio:
a saudade são vozes que amassam qualquer grandeza.

Certa vez enquanto te esperava
sentia frio.
Era um frio que recordava esquecimentos
era um ladrão sem uma causa justa:
como são grandes as coisas que não damos nomes!

Eu via seu vestido
cruzando minha memória
seus olhos como uma grande marina
e eu me recompondo após o adeus
e me perdendo ante as coisas que não damos nomes.

A sua paz enquanto queimadura.
Era de seu sorriso que lembrava
e queimava
e renascia.

O que levar se eu esquecer o sorriso dela?
Levarei a paz de um violão
milhões de cantigas
e uma estrada com os mesmos espinhos
ou uma estrada com as mesmas flores.
Levarei enfim o destino
o destino ainda canta
e enquanto ele cantar
será noite
a noite que tece o dia.


Cancioneiro maluco



Para o professor e amigo Rubem Leite



O que dizer da humildade
andando sem alarde
em jogo de saberes?
Exercício de rasgar poderes.


 ***


Daquilo que transcende
somos frutos do destino da semente.
Mas na liquidação
o azedo é o doce do limão.


***


Para uma vida mais doce, óbvio
busque uma opção saudável.
Como alternativa irremediável
o amor é maior que o sódio. 

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Poema permanente



Viaje pelas condições mais ásperas
e pela manhã não espere bons sonhos.
Siga com a roupa molhada
e nos escuro verás tudo que tens.

O mundo que não é pele nem rochas
o mundo vem com o amanhã
e brilha como sua boca.

Lutei como luta um poeta
eles não sabem.
Um labirinto não cabe em palavras
e fiz obrigação
de vencer um mundo cansado de promessas.

O mundo não é uma invenção!

Faça silêncio porque estão todos dormindo.
Eles que trabalham enquanto dormem
eles que traíram o combatente
por um salário no final do mês.
O mundo se fez ilusão
apagaram a luz
e não são inocentes os que não sabem.
As palavras destes homens não guardam segredos
e tenho medo
do anoitecer
quando a noite é delicada com os homens
e os homens destruíram as cidades.

É inverno enquanto o calor deveria subir.
Não há mais ordem natural.
As praias não levam ondas
as ondas são covardes e não tem destino.
As areias não guardam castelos
apenas materiais de publicidade.
As crianças decifram mistérios
mas os mistérios não são para crianças
as crianças gastam o salário do final do mês.



Antes é frio.
Na neve das coisas
um palácio de opções
um jardim de respostas.
Basta descer
onde vês o rosto de Deus
em cada coisa.

A solidão é o presídio das estrelas
mas não existe solidão infinita
existe um braço
saindo do tear de uma tecelã
a lã do abraço amigo.

Quero toda mística que o futuro pode construir.

Que a vida seja difícil
vivemo-la por inteiro.
Há de viver, sorrir e chorar
a vida só é completa com decepção.

Escuta o amor
e seus dedos ásperos
foi ele quem te segurou quando caístes.
Ajuste o relógio para cair de novo
sempre que necessário
e poderá conquistar a paz necessária
de cair de novo
sempre que a vida pedir.

Guarde as histórias para o domingo
para o almoço em família.
Invente mentiras maiores que soluções hollywoodianas.
Seja um sorriso geral
sem euforia.

Esqueça a rotina, a vida, as dívidas
a depressão, o caos a morte.
Esqueça o medo. Os medos.

Só não esqueça uma coisa: não será o último dia do ano.  




sábado, 16 de agosto de 2014

A substância da coragem


Hei de chamá-la 
após o cair do silêncio.
Hei de chamá-la com pressa
temos os vestígios do amor. 
Celebremos a vida
e a beleza das coisas esquecidas.

Não é sozinho que escrevo poesia. 

Não tenhas medo.
As palavras mais bonitas, Amor
estas sim
nos salvarão.

Espíritos da noite
arte de espada e ternura
não abandonem as cidades
não abandonem meu amor. 

Eu que grudei meus olhos e ouvidos ao destino
eu que cavei tua perfeição na lua
apenas peço: não tenhas medo, Amor.

Nada que vive é digno de remorso.
Seu corpo é cera derretida em meus dedos.
São 7 as canções dos teus lábios
orações que caem do céu 
e batem firme sobre a terra.
Velas que sopram um horizonte
tanto azul
quanto possível.

Do lugar que foram adoçados seus beijos
da distância que abençoa os sentidos
os pobres e os camponeses
apenas um lugar
que caiba olhares
um lugar que sustente a mão
a vencer qualquer guerra
porque não é de espingardas que falo.

Já é madrugada, Amor.
Pedistes um papel branco.
Corre em escrever uma antologia.
Somos luminosos
invencíveis sonhadores.
Corre
porque a vida não tem chão para quem sonha.

Recordarás o dia
em agradecimento
que vencestes o monstro imenso
sagrado medo.

Os poemas sem pátria
agora
têm um motivo para virem ao mundo.  

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

O medo não é ancoragem


A vista
sobre todas as vistas
é apenas janela
pois quando o céu está limpo
esqueço das maiores mentiras
em pele de gratidão.

Do alto do 8º andar
a janela é a cidade
sem as voltas que ela dá.

Tentei avisar que a vida não sobe escadas
não usa elevador
mas eu faço poesia.

Da vida que soprava lá fora
a vida que ela desconhecia.
Aquela vida que ocuparemos com palavras
com bexigas
com todo azul e calor
chegará no verão.

O verão vai chegar
sem corações magros
varrendo o medo na hora certa
derrubando os quadros velhos das paredes
e a vida queimará em flor
longe das janelas
quando acreditarem nos poetas.

Sobre seus cavalos
túmulo de ventos
a beleza descerá.
O ventre da vida
nos convidará
para enfim participarmos
daquilo que merece renascimento.

Nós
os poetas
nem brancos, nem pretos
da cor do sol
da cor que os caminhos desconhecem
seguiremos a vida com oxigênio.
Não basta beijar o céu
perseguindo dúvidas.

Da rua
enfeitada com tranças e luzes
levo o que seria um novo caminho
além do hall do condomínio.

Queria ela uma canção
uma lua?
Não.
Saiu da sala
como quem vai ao quarto
e da lua que o poeta daria
ela queria
o dia-após-dia
com a voz fraca
de um piano perdido
a vida da janela.

O que vê a janela
se tudo é emanação
de um subterrâneo matutino.

Como consolo
das feridas do paraíso
dei minhas mãos para ela.
Escrevo linhas e eternidade
e tiro o frio que ameaça seu sorriso.
São com as minhas mãos
que conto histórias
de um mundo aberto e livre
que nasce além da janela.

O medo está congelado no 8º andar
porque ninguém acredita nos poetas.

O inverno se desenvolve.