quinta-feira, 24 de abril de 2014

O mundo é uma aprendizagem de carinhos

Para o aniversário de Mayra Domingues.
" Tudo que fizer, que faça com o coração, alegria e esperança".
 



Ainda que toda neblina
derrubasse meu corpo
deixando o peito aberto
paralelo ao chão

e todo fogo rebatizasse minha vida,
com a matéria do silêncio,
eu voltaria com notícias de longe
após o desembrulhar da lamentação.

Se todo mistério
coubesse numa pedra
seria eu
a continuação dos mortos e dos Homens?

Teria um orgulho a defender e interpretar?
Seria sonolento de segunda à sexta-feira
e bêbado aos sábados e domingos?
O amanhã os protege do amanhã.

Com o auxílio da humildade dos céus
soube que os santos para os quais se rezam
não são os mesmos
que se fazem promessas.

Antes da doença
na fronteira do amor corria um rio.
Hoje ele é pesado, ri com invisibilidade
como quem bate o ponto: atrasado, competitivo cansado.

Um poeta sozinho quer acabar com a doença
porque ele é homem povoado
de sangue, anjos e beleza
e escuta sombras e excessos.

Do tempo que todos mastigam
fazem fila, tiram foto e compram
ele sabe o endereço das coisas esquecidas
e resgatá-las é seu dever

principalmente quando a descrença 
tortura e amarra a felicidade
e dos 4 cantos da boca
um planeta cinza é a essência do frio.

Há na queda um assunto interminável contra a tristeza.
Quando levantei-me, retirei do solo raiz e semente
calor e o verde das perguntas.
Todo o consolo dominou minhas mãos e palavras

e como um relógio,
aponta ideias que alcançam o Sol,
a Araucária sorriu manhãs
com dedicação e coragem. 

Suas mãos espalmadas
compreendiam os pássaros
que constroem moradas no vento.
Compreendiam também os Homens:

há pavor demais em sair da solidão.
O veneno dos enlatados
evoluiu para uma acomodação crônica.
Uma pele

esperava radiante o momento certo de tornar-se Homem.
Era churrasco
e na sedução escondida e belicosa dos espetos
desintegrava a convivência.

A partir deste dia
a pele vestiu qualquer roupa
e estampou um sorriso estático
trabalhando por 8 horas.

Do sangue,
a obstinação de enfrentar a consciência,
 a necessidade de cartão de créditos, filas e planilhas.
Viver tornou-se um mosaico de castigos.

Hoje, o mundo é a decepção
de um poema para guardar e esquecer.
Mas amanhã
o dia muda.





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