quarta-feira, 31 de julho de 2013

Poema para meus pais


Para meus pais, Alfeu e Emília, na justiça de conhecer o reflexo de Deus através do Amor de vocês.




Nasci das bocas que viajam à Terra
com uma missão:
tornar a vida conselheira liberta
dos aprendizes
que devem à Vida
pele e gratidão
a abnegação e o Próprio.


Vive este coração
e como é gordo este coração!
Incerto na certeza
da cadência das palavras
erro ambicioso da definição.


Bate este coração
e como escuta este coração!
Nascido da língua que nos aproxima dos anjos
renascido  com o amor que deixou de ser palavra
virou ação
cresceu
assim como cada noite mal dormida
como a distinção do choro agudo
ou o choro da cólica
ou o choro da fome.
O amor que ainda não existia
(namoro de hot dog, pipoca e portão)
nasceu e virou Amor.

Bate este coração
e como vive este coração!
Com o Amor retornando aos braços
virou conforto do mundo
coral de simpatia roxa
magia de natas e algodões.


O Amor respirou, precisou de colo
nasceu com a preocupação do nariz que respira baixinho
seguiu alimentando este coração
vento que penteia nuvens
em baile de misericórdias.

Vive este coração
e como erra este coração!
O Amor virou falta de dinheiro e carro quebrado na estrada
o Amor foi boletim e nota vermelha
passeou pela reunião de pais
pelos bilhetes
pelas febres
pela caxumba.
O Amor foi puxão de orelha e palmada
bola de presente no quintal furada
foi o entendimento de sentir como é aberto o portão da garagem
como é esparramado o peso no sofá
como são os passos ao entrar em casa.
O Amor foi delegacia
muro pichado na esquina.


O Amor é o "pelo sinal" para começar o dia
(sentir a capital das palavras beijando meu rosto)
a compreensão dos amigos imaginários
o peso da simplicidade para a compreensão da divindade própria.

Bate este coração
e como é valsa este coração!
Nos raios de toda imensidão
vivendo na curva do Sol
o que não cabe na terra.
o Amor é cidade nova
que cadencia as metamorfoses humanas
é revolução silenciosa
é essência em êxtase
é o remédio para o cotidiano
e a morte do incompreendido.
O Amor é soja refogada com curry
arroz queimado no fundo da panela.

É filho aquele cujos pais deixam seguir os próprios caminhos
(quantos tendo pais não são filhos?)
em uma estrada que leva à esperança e a subversão.

O Amor é fruto do que sou:
semente de sonhos que eu era na alma de vocês. 

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Aproveitável





A folha
nasceu da Raiz
que nasceu a flor:
reino da alquimia do Amor.
 

A folha prosperou do verde
deu a volta em todas as cores
( para ser além do marrom e roxo)
não virou céu
renasceu absoluto como pó de guaraná
e virou gravidade para a raiz da flor.

O olhar nasceu do olho que não vê. 
 Já o porco
assiste à perfeição
porque a vê em camadas
visionário!


Para o porco
o homem assiste a tudo que vê.

Já o homem
sem natureza
come o porco
que é porco porque é comida
e à direita do louco
tudo vira comida
banal
como água que se bebe no bebedouro
no filtro
ou em outras invenções.

No escritório ou na sala de espera
a água,
linguagem e ritmo da vida
é expatriada do copo
voando raso com destino ao lixo
empurrada pela mão que desconhece o braço.
Banal
banal, diria o porco.

 O homem sem raiz comprou a flor.

 A flor é embrulhada no campo
seguindo para as grandes cidades
em caminhões sujos e pesados
com ar condicionado.
Na caixa de papelão
além do lote
algumas pessoas leem o não escrito:
 (porque não comem o porco)
“uma flor comprada seca a beleza e aprisiona o jardim”.

 O homem que come o porco
não ama para comprar flores.

 O homem que cria o porco
com intenção delirante de transformá-lo em comida
é sujo
com voracidade
e progresso tecnológico para violentar.

 Toda violência deixa marcas
e a sujeira é profunda
porque está abaixo da pele
e da assepsia do sabonete e do banho.

A transcendência não está na morte enfeitada no prato
ou na gastronomia.

Liberdade é transcender em um ato revolucionário
de pegar todas as criaturas pela mão
e em direito à vida
reconhecer todos eleitos pela Criação.


A folha em flor
a raiz
o olhar
e
o porco
continuam nascendo.

 
Entretanto
o homem continua procurando o jardim
na flor errada.


Existe nessa relação
uma perpétua crença:
o Amor continua acreditando nos homens.


Flores nascerão para brotar consciências em lugares vazios.


Se o Amor é tudo
e tudo é aproveitável
a ignorância espera em alegria
(plena vida)
acima da terra dos homens
porque prospera em lugares onde vida não é comida.

 

 

 

segunda-feira, 22 de julho de 2013

É preciso rasgar as cartas de amor





A morte é lei da vida

mas, a despedida não é da lei do Amor:

é preciso rasgar as cartas de amor.



Não pedi a hora da luz

quis dormir com seu sorriso.

Não quis acordar a partir da semente da certeza

que fazia mutirão em terras pouco conhecidas.



Era anel de jasmim que tinha nos dedos

florescia com o encanto da paineira

que não tem fim enquanto finda a primavera.

Relicário da manhã de eternos amantes

tingia o ar com o compromisso de rosas abertas

para fazer nascer amor em mim.

Cantigas e cirandas

chá de maça, gengibre e alegria

assim

continuava sem ter notícias

da tão falada queda dos Homens.



A ternura

misto de coisa e Coisa Nobre

esculpi com os recursos da vida

para atravessar

as Simplégades do caminho até o si-mesmo.

Sobrevivi

confesso

porque recolhi das minhas memórias

infinitos abraços para dar.

Sobrevivi

e quando a maré encheu

derramou luz no porto dos Homens

que ainda não aprenderam, sem morte

retirar da vida o próprio sustento.



De repente o horizonte

feito de casas e esplendor

alcança-me

de repente o amor me alcança

para ter razoes

(elementares)

para me sentir vivo.

Depois

deu-me forças para interrogar o que se guarda ao longe:

como são as coisas que não amamos?



Guardo a tarde como uma promessa de adolescente.



Caminho a frente desta estética torta e fria

percorrendo o extremo da lógica comum:

é preciso ser forte para reconhecer o encontro de outras solidões.



Reconheço na despedida um louvor à verdade cíclica

verdade que move os corações errantes.

Quantos mundos amarei pela vontade de permanecer vivo?



O solo não multiplica flores sem sofrimento

rasgo assim um pedaço do meu peito

o sangue da copa repousa o fruto.



Não sei onde vivo.

Quais são as verdades que a razão ambicionou ao Homem?

Desamparado

senti o beijo que apedreja e vira mordida

desamparado

estava só na tempestade de silêncios.



Para quais limites nos separam as margens

se estas cartas não tem próxima página?

Abro cada papel amarelado

te busco em cada cinza delirante

e apenas eu me recomponho.

Estás agora longe do caminho da lembrança

lembrança de histórias e silêncio

silêncio de tempo preso.



Não há mais você em nós

o que há são areias quentes escorrendo entre meus dedos

não há videiras ou carma

ou horizonte fiel dos nossos planos

há para os que ficam

a esperança que se vive.



É preciso perder

oferecer a face à essa dama aérea chamada Vida

a Vida é o puro viver sem enganos

o material da poesia.

Em cada perda

ser confidente do luto e da causa

(não há castigo)

e na dimensão da perda

um novo céu

livre do peso extra

guarda as virtudes de um novo encontro

e qualquer morte

em vida

funcionaria apenas como um paliativo para a eternidade.

Fui até o outro dia da imensidão



o cheiro de roda e destino

era anunciado pelo beija-flor.



No caminho

Jesuítas passaram por mim

disseram que a paixão é a categoria sinônima de um mundo real.

Não se vive santo

sem ser inaugurado de verdades

como a única verdade bendita

e aceita: Amor de encontro.



Vives então para ser fiel

à esta única verdade bem aceita

e a única verdade que lhe será fiel.

Sem isso

subirá montes, comprará carros, calças

e a vida não irá além de um gênero literário

e as lágrimas serão sempre orgulhosas


Estas foram as palavras daqueles que abençoaram o meu caminho

do alto das palavras eu disse amém.



Estava só.

Meu fascínio era também meu maior medo:

a noite guardava minha sombra.



Minhas preces de intenções espirituais

eram mentiras que eu desconhecia.

Quando rogava pelo não saber

uma revelação próxima

fez-me rogar pela ignorância:

seus beijos não cairiam mais pelo céu da mãe dos homens

seus lábios não mais sorririam por mim

em seus dedos a tatuagem evaporou

e as lembranças,

que nos reencontraram em vida

hoje desabam tristezas

tristezas puras

e ainda me rondam os lobos da noite.



A noite é a certeza que precisa o dia

por isso os cachorros não sabem

e sempre serão as melhores companhias

porque me ensinaram que até o inferno

é uma condição passageira

a vida é o tempo que não recebemos.



Venço a noite quando acordo.

Paraíso é encontrar o que já chegou

mesmo que seja um amanhã distante

mesmo que seja o calor que situa os Homens e a vida

mesmo que seja a decisão:

é preciso rasgar as cartas de amor.

Em nome do Amor

revelações escondidas virão

em nome do Amor

não me arrependerei se outras cartas virão

pela vida

eu escreverei.

A Vida vem em capítulos.








































sexta-feira, 5 de julho de 2013

Conversa de travesseiro


O dia que caminhava solto
ou eu que estava tão longe?
Queria
como queria
a paz do sol
que esconde o monte
deixa a rua tranquila
tela de azulejos cor- de- céu
bela decoração postiça.

Ainda. Não, não tinha.

Perto da terra
(quando desço)
vejo
o muro
muro alto
silencio duro que separa homens e pesadelos
presente de Prometeu.

Crônica da caneta preta:
esFÉrográfica
esperográfica
iluminográfica
silenciográfica
remendográfica
amanhãgráfica
ou
caneta tinteiro dos homens que brincam com a natureza de Deus.

Finda o dia.

Líricas veredas
cronologia do meu tempo de espera
e tudo que seja amar
amando, não seja destruição da natureza.
Jaz a conquista do pretérito perfeito.

Tudo que se faça necessário:
conversa ao contrário
redemoinho de gente
jato de dente
sorriso de mãe dos homens.

Penso na cama
templo da gente
não falo de sexo
sempre, sempre: ingrediente do elemento ausente.

A paz dos poetas mortos
vivos enquanto poesia
angústia da estrela muda.
Muda o verbo
que a gente muda
entende?

Lá fora
alguém fez doce
a cozinha cantou
e não era domingo.
Era dia de manhã
uma sexta-feira qualquer
açúcar, goiaba e romance.

Preciso chegar em casa à colheradas
vencer o mal da tentação dos homens:
além do fio e da calda.

Lá fora
na esquina
teve  realejo
anjos falsos e cataventos
policial engenhoso
oferecendo carona na viatura
teve nuvem bordando no céu minha caricatura
teve tudo
teve mãe e filha
e eu sozinho
atravessando a avenida
vi na padaria a criança chorando
a mãe quis o pão
a criança não.
Chorava a criança
como chorava Carolina
chorava também o doce
por não ter a menina.

Lá longe
o remendo do fundo dos homens artistas
caiu em prece de oração e poesia
versos que pedi e componho:
conversa de travesseiro antes do sono
embala o sonho.

Meu tanto!