sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Sobre a salvação dos corpos ou Poema Insolúvel




Pelo toque de sua mão pura
seria poeta
correndo louco pelas palavras.

Pelo toque dos seus lábios
subiria ao céu
não cantaria mais tempos difíceis.

Pelo calor da sua língua
pelo frescor dos seus dentes
ávidos de sorriso e inocência
voltaria ao Paraíso.

Eu sou humano ofegante.
O Paraíso é abundância de anjos.
Acredito no seu templo dourado
na afirmação dos corpos
atabaques, seios, postura
cabelos.

Cabelos da gema da Terra
rainha e mãe dos homens
mãe dos pecadores
infiéis:
homens fieis à vida!


Nunca me verás ao céu
o viver sem rebarbas é meu invólucro.
De caprichos penitentes
a angustia é minha trindade
Salvação
e liberdade futura.

Sou essência de carne e osso
santo sacerdote fiel à quadris largos
amante da serenidade de seus seios
de suas pernas de maçãs carnudas
de sua língua
estrela polar avulsa.
O único conhecimento que contemplo
o restante eu abandono.

Passa a meia-noite
meia-noite dos homens e das cidades
fica em mim seu ventre
com gosto de nuvens.

A semente das horas marca minha alma
sou arrancado da delinquência
sou arrancado da vida estéril.
Salvação é perder-se no labirinto
sem desespero.

Sou o poeta da causa perdida
de canetas e ilusões
indecisões e martírios.
Sou o poeta buscado pela vida
de ternura e trabalho
a presença do homem.

Em louvor aos céus:
Onde estão suas mãos?



Tirando a poeira do blog com novidades!


 Olá pessoal, como estão? 

Já faz algum tempo que não passo por aqui. Fico feliz que algumas pessoas tem perguntado o motivo do "chá de sumiço" e hoje, além de uma nova postagem vou adiantar algumas coisinhas...

Durante esses meses de maturação de ideias, fiz a seleção de alguns poemas e se tudo correr bem, em Dezembro terei meu primeiro livro de poesia!

 Sim cara pálida! O que começou com uma simples proposta de tirar alguns escritos das gavetas, agora vai ficar arrumadinho e diagramado ( palavra nova que tenho ouvido com frequência...) nas páginas do livro!

O livro já tem nome e praticamente um corpo!  Mas, são detalhes que não posso falar, ainda...

Meus abraços a quem tem acompanhado o blog e perguntado sobre as novidades: aqui estão!! 

A você que acompanha desde o começo, ou começou agora, ou simplesmente acompanha o blog, meu agradecimento de hoje e sempre! 

Vou postar um poeminha logo logo, espero que gostem! 

\o/


sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Página 1



Havia pensado em uma história simples, previsível e consumível. Era o que eu fazia de melhor. Com o coração flutuante, só restava pensar em histórias para preenchê-las de amor e fantasia.  Poderia ser a história de um casal  qualquer. Viveriam algum tempo separados pelo flagelo da guerra, fosse nas Cruzadas ou na Guerra das Malvinas, e depois viveriam perseguindo o viver ao sabor de suas próprias lembranças.  Precisava escrever, havia prazos para isso.  O mundo profissionalizante é feito de prazos e criatividades espremidas.  Qualquer história  que me desse mais uma semana de alívio, fosse ela de monstros ou de jardins.  Eu me vendi a isso, era o que me contentava.

O sentimento mais próximo de não existir é o de não ter idéias.  Fluía entre uma idéia e outra com o lápis batendo na mesa e a mente em algum lugar, certamente não comprometida com o prazo que já estava se esgotando.  Ainda lembro-me do bilhete mal educado colocado sobre a mesa: “No mundo profissional as pessoas cumprem prazos. Vou esperar o material pronto até sexta-feira. Não escreva contos, quero um romance.” O nome “Hélio” estava escrito com caneta vermelha e o  restante do texto em caneta preta, não entendi o porquê.  Hélio era um grande amigo de meu pai, éramos colegas até ele se tornar chefe.  Antes, compartilhávamos  juntos o café da manhã e em cada dia da semana, cada um da redação era responsável por trazer o pão, o queijo e o salame. Nas proximidades do dia 30 o café da manhã sempre tinha bolo e alguns brigadeiros, esticávamos o momento para celebrar os aniversariantes do mês.  Entretanto, ao exigir cada vez mais de todos os fotógrafos, editores e jornalistas, os momentos de interação ainda aconteciam, porém, cada vez menos.

Para mim, tudo mudou quando Hélio assumiu a chefia. Não conseguia entender a relação dos fatos, mas este também foi o momento em que não consegui mais produzir na escala esperada pela redação e no mesmo volume que todos faziam com aparente normalidade. Outras coincidências factuais me atordoavam: já estava para completar 6 anos na mesma função, alimentando a frivolidade que é acordar cedo para realizar a mesma tarefa por cerca de 2190 dias, não contando os domingos, feriados e apenas duas férias fruídas, já que a terceira estava para vencer e o Hélio era convincente a fazer acreditar de que eu era insubstituível em minha função. 

Das Artes, a mais sublime certamente é o encontro de almas. É um prolongamento de vida que faz abrir os olhos para o mistério de dois pensamentos habitarem juntos, um mesmo instante, por um mesmo ideal utópico comum. Não quero mais que a síntese de uma consciência plural a me mostrar que na mutilação existente entre o “bem e o mal” pode existir a Arte e nisso há elementos substanciais o suficiente para afogar o determinismo em um oceano previsível e muito próximo da calmaria de uma zona abissal. Por ser um caminho além da percepção, é preciso afirmar: o homem aberto à Arte é caminho.
Não quero a sorte do protagonista da novela. Eu quero é vida real, sem espetáculos. Sentimento é coisa séria. Aliás, lembro-me que essa foi uma das primeiras palavras que troquei com ela. Conhecê-la foi como um tiro de canhão no peito. Importa na verdade é descobrir quantas pessoas você pode conhecer realmente, em menos de um segundo, sem precisar dizer “oi”.  

O melhor de tudo é que não se tratava do romance recém inaugurado que não conseguia sair da página 1.  Para meu alívio, aquilo não era ficção, e sim o fluxo da minha vida com silêncio, esperança e sem lógica. Os prazos se esgotavam, eu sabia, mas algo se transformava em mim lentamente. Meu declínio profissional continuava gradativo.  Algo em mim tinha outros anseios, mas onde começaria a primavera da minha ilusão? Precisava da ilusão verdadeira, aquela que me faria romper com o cotidiano de apertar a mão de todos, e esperar até sexta-feira para confidenciar à felicidade o quanto ela é passageira.
Foi quando despertei e meu tempo estava entregue a ela. Ela acolheu meu destino com olhos e boca e me levou até a liberdade que me entregaria. Aquilo que eu não conhecia seria meu, talvez com pouco mais de tempo pudesse ser nosso.  O cotidiano não orquestrava nada mais, além da espera.

8 horas diárias e 7 dias durante a semana interminável  me devoravam sem que eu escrevesse uma linha a mais . Entretanto, seu nome ainda era um passarinho a voar  e a devolver música ao ruído solitário em que viviam os homens, inclusive eu.  Sabia que viveria com ela um amor que não era de flores. Talvez um amor de estrelas e outros mundos, já que ela tinha serenata nas palavras e fazia ser domingo toda vez que sorria.
Permanecia na página um.  Percebi que as idéias não fugiam de mim, elas sabiam o caminho que  eu deveria percorrer e me arrastariam, se preciso fosse para, para um abrigo longe do meu dia-a-dia colérico, de face sempre igual.  
- Se o trabalho é coisa séria, o sentimento também é.  Lembro-me da primeira vez que a conheci, enquanto ela confidenciava ao telefone esta verdade para alguém. Seu perfume era a rosa dos ventos da única convicção que tinha em mente: por ela, substituiria todo determinismo  pela Lei dos nossos encontros. Ela vestia calça jeans e camiseta branca, com uma ecobag  timidamente caída pelo ombro esquerdo. Assim eram os dizeres da bolsa, provavelmente bordados à mão: “é possível viver em sonho o truque da realidade”. Suas mãos bordavam toda caligrafia do encanto.  Já amava sem  conhecê-la, confidenciei sem demora a mim mesmo.   Estávamos na fila da mercearia, com o destino ainda desconhecido entre nós. Meu único compromisso era o de comprar os pães de queijo e o refrigerante para celebrar com a redação os aniversariantes do mês, uma das poucas festas que a redação toda ainda poderia se reunir.
Quantas coisas damos importância e no final nos tiram a vida? Não tive tempo para pensar no oposto dessa sentença.   Após uma semana, encontrei o bilhete do Hélio no fundo da gaveta.  Às 7 da manhã ouvi Hélio chegando após algumas pigarreadas pelo corredor da redação. Com o cigarro apertado no canto da boca, fez um aceno com a cabeça. Seus olhos devoravam minha calma.

Uma angústia momentânea pairou sobre meus pensamentos, não tivesse eu sido arrastado pela lembrança da noite anterior, que  havia começado ao meio dia no parque. Comum, não fosse ela me ensinar a olhar a vida com olhos de inventar realidades.  Entre tantas confissões, revelou-me  que as árvores tem sangue azul do tronco às copas e que durante a noite, liberam do trabalho afortunado formigas e caracóis para o mistério da cidade em que os carros dormem. Lembrei também da possibilidade de segurar uma lagarta ( apenas as que não tem pelos) por 3 segundos para descobrir a essência das borboletas.  Ela me ensinou que ter certeza é sentir.

Retornei ao mundo das angústias. Lembrei do tempo e do prazo. Lembrei de uma vida não vivida.
Meu compromisso não era mais ser um fiel intérprete do cotidiano. Pela primeira vez dizia EU sem contradição, nem boatos. Liberdade significava ter me livrado do perigo de ser sempre o mesmo.  
Pela necessidade de amar, amei o melhor de mim, nela. Pela necessidade eu trabalhei inventando mentiras.  Se hoje sei que a vida brota onde o sol bate, sei que o amor é um pintor de lembranças  e isso bastaria se eu tivesse conseguido agradecê-la.  

Ela daria importância?


terça-feira, 20 de agosto de 2013

Frente




O caminho que mistura as pessoas na rua é frente.
A frente é dita pelo direito à ignorância para questionar.
Todo ritmo de luz e sombra
e os alertas das ruas também podem ser vistos como manifestações do subúrbio da mente.

Todas as esquinas são frente
os becos e vielas são frente
o chão de terra não é mais solitário
 e todos os postes da rua são lua
quando olhar que supera a realidade
é frente.

Todas as pessoas de placas nas mãos são frente.
São estrelas que saíram do céu
e aos primeiros raios da manhã
inauguraram a frente das ruas.

As marcas do sofrimento histórico
são frente
mas, não guardam mágoas.
É preciso aprender com o que a história conta.

Quem alimenta ódio e rancor são velhos latifundiários
com demarcações e espingardas em mãos
que presenteiam a humanidade com feridas
 oceanos de sangue.
Grileiros que afogam semelhantes em carne em intensa agonia
fogo cruzado queimando flechas ,doces e mandiocas
Assim ergueram mansões
de bolso saciado pelo despotismo
que impõe estátuas e descampados
justificado pela ganância errante da pecuária.
Estes foram os descobridores da miséria
senhores de chapéus e soldados
senhores de barbas, motoristas e muitas madames.
Miséria de punhal e petróleo
miséria que varreu as ruas enquanto eram terras
sem árvores
apenas jazidas de choro de terra.

Enquanto não era sóbrio
não ouvia a terra
ela chorava.

No escuro do sofá e revistas
encontramos o que escondiam
 frente são todos os lados que protagonizam uma história
mesmo que no caminho não haja lâmpada
apenas consciências a brotar.


segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Instantâneos sobre a espera


A espera é a disciplina das coisas em sua latência:
é a inexplicável coragem das horas.

*

A espera é o tempo que permanece e frutifica:
para nascer o que são flores não basta apenas a semente.

*

A espera constitui uma vida não vivida que atravessa nosso íntimo:
é a entrega às razões da vida.
 *

A espera é o desconhecido que guia nossos passos:
é a assinatura da maturação humana.

*

A espera é uma história universal.




quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Hortelã

Respira a ternura
 independência da alma
sua arte é destino,
consolo de ondas e velas
assim nasceu a consagração dos vivos:
alívio para os que  caminham, sem saber onde pisam
suplício!
 Aflitos, não sabem para quê trabalham
vampiros!
Não percebem os pulmões feridos
rendidos à pátria de nó e cabide
pedaços de corações partidos.

Seu respirar é florescimento vivo
saliva que cicatriza e cura
frescor do mar em folhas
destino que cruza
moradas e peitos
algum lugar mentolado.
É bala
é terra doce
é caramelo esfriando na pia
é eterno bálsamo de vaso
tem a digital de todas as avós do mundo nas folhas.


O homem como seu maior abrigo
peito cheio
infinito
infinitos.

Nuvens de rosas frescas
assim nasceu a consagração da plenitude:
hortelã é abraço amigo
seu silêncio é amanhecer que fala
histórias antes de dormir.

domingo, 4 de agosto de 2013

O casal de borboletas



Conversa nossa começou assim:
- a sorte é um ato nobre, um afago do mundo
e você
é tão linda como a princesa Mononoke.

Menina bonita
que não é merecedora de elogios
o que sabe você da linha que corta a palma da minha mão direita?
Você que não acredita em coincidências
porque é uma palavra engraçada demais
devolve o silêncio
em atmosfera de descoberta
martelando sílabas de amor ao engano.

São os chacras que lhe causam vertigem ao amor?
O coronário, o frontal, o raiz...
O que dizer do meu Saturno em Sagitário?

Menina bonita
em qual Astrologia está aceso nosso caminho?
Em qual dos destinos reinará o Tarot?

Menina bonita
a tristeza é a mãe de todos os encontros.
(eu sofro por saber que você já sofreu)
pela tristeza as estrelas rasgam a noite
e um pedaço do sorriso celestial
te abraça com calma.

Menina bonita
toda travessia noturna
é um regresso ao medo
ou à luz doce que nos faz sonhar:
em cada instante somos um futuro diferente
em sonho, meu coração buscará o seu.

Menina bonita
minhas mãos cairão sobre ti
perseguirão tua humildade tardia.
Minhas mãos são poemas exilados que escrevem:
“Dias são aqueles que virão”.

Menina bonita
você ri
eu respiro:
são borboletas que se encontram. 


quarta-feira, 31 de julho de 2013

Poema para meus pais


Para meus pais, Alfeu e Emília, na justiça de conhecer o reflexo de Deus através do Amor de vocês.




Nasci das bocas que viajam à Terra
com uma missão:
tornar a vida conselheira liberta
dos aprendizes
que devem à Vida
pele e gratidão
a abnegação e o Próprio.


Vive este coração
e como é gordo este coração!
Incerto na certeza
da cadência das palavras
erro ambicioso da definição.


Bate este coração
e como escuta este coração!
Nascido da língua que nos aproxima dos anjos
renascido  com o amor que deixou de ser palavra
virou ação
cresceu
assim como cada noite mal dormida
como a distinção do choro agudo
ou o choro da cólica
ou o choro da fome.
O amor que ainda não existia
(namoro de hot dog, pipoca e portão)
nasceu e virou Amor.

Bate este coração
e como vive este coração!
Com o Amor retornando aos braços
virou conforto do mundo
coral de simpatia roxa
magia de natas e algodões.


O Amor respirou, precisou de colo
nasceu com a preocupação do nariz que respira baixinho
seguiu alimentando este coração
vento que penteia nuvens
em baile de misericórdias.

Vive este coração
e como erra este coração!
O Amor virou falta de dinheiro e carro quebrado na estrada
o Amor foi boletim e nota vermelha
passeou pela reunião de pais
pelos bilhetes
pelas febres
pela caxumba.
O Amor foi puxão de orelha e palmada
bola de presente no quintal furada
foi o entendimento de sentir como é aberto o portão da garagem
como é esparramado o peso no sofá
como são os passos ao entrar em casa.
O Amor foi delegacia
muro pichado na esquina.


O Amor é o "pelo sinal" para começar o dia
(sentir a capital das palavras beijando meu rosto)
a compreensão dos amigos imaginários
o peso da simplicidade para a compreensão da divindade própria.

Bate este coração
e como é valsa este coração!
Nos raios de toda imensidão
vivendo na curva do Sol
o que não cabe na terra.
o Amor é cidade nova
que cadencia as metamorfoses humanas
é revolução silenciosa
é essência em êxtase
é o remédio para o cotidiano
e a morte do incompreendido.
O Amor é soja refogada com curry
arroz queimado no fundo da panela.

É filho aquele cujos pais deixam seguir os próprios caminhos
(quantos tendo pais não são filhos?)
em uma estrada que leva à esperança e a subversão.

O Amor é fruto do que sou:
semente de sonhos que eu era na alma de vocês. 

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Aproveitável





A folha
nasceu da Raiz
que nasceu a flor:
reino da alquimia do Amor.
 

A folha prosperou do verde
deu a volta em todas as cores
( para ser além do marrom e roxo)
não virou céu
renasceu absoluto como pó de guaraná
e virou gravidade para a raiz da flor.

O olhar nasceu do olho que não vê. 
 Já o porco
assiste à perfeição
porque a vê em camadas
visionário!


Para o porco
o homem assiste a tudo que vê.

Já o homem
sem natureza
come o porco
que é porco porque é comida
e à direita do louco
tudo vira comida
banal
como água que se bebe no bebedouro
no filtro
ou em outras invenções.

No escritório ou na sala de espera
a água,
linguagem e ritmo da vida
é expatriada do copo
voando raso com destino ao lixo
empurrada pela mão que desconhece o braço.
Banal
banal, diria o porco.

 O homem sem raiz comprou a flor.

 A flor é embrulhada no campo
seguindo para as grandes cidades
em caminhões sujos e pesados
com ar condicionado.
Na caixa de papelão
além do lote
algumas pessoas leem o não escrito:
 (porque não comem o porco)
“uma flor comprada seca a beleza e aprisiona o jardim”.

 O homem que come o porco
não ama para comprar flores.

 O homem que cria o porco
com intenção delirante de transformá-lo em comida
é sujo
com voracidade
e progresso tecnológico para violentar.

 Toda violência deixa marcas
e a sujeira é profunda
porque está abaixo da pele
e da assepsia do sabonete e do banho.

A transcendência não está na morte enfeitada no prato
ou na gastronomia.

Liberdade é transcender em um ato revolucionário
de pegar todas as criaturas pela mão
e em direito à vida
reconhecer todos eleitos pela Criação.


A folha em flor
a raiz
o olhar
e
o porco
continuam nascendo.

 
Entretanto
o homem continua procurando o jardim
na flor errada.


Existe nessa relação
uma perpétua crença:
o Amor continua acreditando nos homens.


Flores nascerão para brotar consciências em lugares vazios.


Se o Amor é tudo
e tudo é aproveitável
a ignorância espera em alegria
(plena vida)
acima da terra dos homens
porque prospera em lugares onde vida não é comida.

 

 

 

segunda-feira, 22 de julho de 2013

É preciso rasgar as cartas de amor





A morte é lei da vida

mas, a despedida não é da lei do Amor:

é preciso rasgar as cartas de amor.



Não pedi a hora da luz

quis dormir com seu sorriso.

Não quis acordar a partir da semente da certeza

que fazia mutirão em terras pouco conhecidas.



Era anel de jasmim que tinha nos dedos

florescia com o encanto da paineira

que não tem fim enquanto finda a primavera.

Relicário da manhã de eternos amantes

tingia o ar com o compromisso de rosas abertas

para fazer nascer amor em mim.

Cantigas e cirandas

chá de maça, gengibre e alegria

assim

continuava sem ter notícias

da tão falada queda dos Homens.



A ternura

misto de coisa e Coisa Nobre

esculpi com os recursos da vida

para atravessar

as Simplégades do caminho até o si-mesmo.

Sobrevivi

confesso

porque recolhi das minhas memórias

infinitos abraços para dar.

Sobrevivi

e quando a maré encheu

derramou luz no porto dos Homens

que ainda não aprenderam, sem morte

retirar da vida o próprio sustento.



De repente o horizonte

feito de casas e esplendor

alcança-me

de repente o amor me alcança

para ter razoes

(elementares)

para me sentir vivo.

Depois

deu-me forças para interrogar o que se guarda ao longe:

como são as coisas que não amamos?



Guardo a tarde como uma promessa de adolescente.



Caminho a frente desta estética torta e fria

percorrendo o extremo da lógica comum:

é preciso ser forte para reconhecer o encontro de outras solidões.



Reconheço na despedida um louvor à verdade cíclica

verdade que move os corações errantes.

Quantos mundos amarei pela vontade de permanecer vivo?



O solo não multiplica flores sem sofrimento

rasgo assim um pedaço do meu peito

o sangue da copa repousa o fruto.



Não sei onde vivo.

Quais são as verdades que a razão ambicionou ao Homem?

Desamparado

senti o beijo que apedreja e vira mordida

desamparado

estava só na tempestade de silêncios.



Para quais limites nos separam as margens

se estas cartas não tem próxima página?

Abro cada papel amarelado

te busco em cada cinza delirante

e apenas eu me recomponho.

Estás agora longe do caminho da lembrança

lembrança de histórias e silêncio

silêncio de tempo preso.



Não há mais você em nós

o que há são areias quentes escorrendo entre meus dedos

não há videiras ou carma

ou horizonte fiel dos nossos planos

há para os que ficam

a esperança que se vive.



É preciso perder

oferecer a face à essa dama aérea chamada Vida

a Vida é o puro viver sem enganos

o material da poesia.

Em cada perda

ser confidente do luto e da causa

(não há castigo)

e na dimensão da perda

um novo céu

livre do peso extra

guarda as virtudes de um novo encontro

e qualquer morte

em vida

funcionaria apenas como um paliativo para a eternidade.

Fui até o outro dia da imensidão



o cheiro de roda e destino

era anunciado pelo beija-flor.



No caminho

Jesuítas passaram por mim

disseram que a paixão é a categoria sinônima de um mundo real.

Não se vive santo

sem ser inaugurado de verdades

como a única verdade bendita

e aceita: Amor de encontro.



Vives então para ser fiel

à esta única verdade bem aceita

e a única verdade que lhe será fiel.

Sem isso

subirá montes, comprará carros, calças

e a vida não irá além de um gênero literário

e as lágrimas serão sempre orgulhosas


Estas foram as palavras daqueles que abençoaram o meu caminho

do alto das palavras eu disse amém.



Estava só.

Meu fascínio era também meu maior medo:

a noite guardava minha sombra.



Minhas preces de intenções espirituais

eram mentiras que eu desconhecia.

Quando rogava pelo não saber

uma revelação próxima

fez-me rogar pela ignorância:

seus beijos não cairiam mais pelo céu da mãe dos homens

seus lábios não mais sorririam por mim

em seus dedos a tatuagem evaporou

e as lembranças,

que nos reencontraram em vida

hoje desabam tristezas

tristezas puras

e ainda me rondam os lobos da noite.



A noite é a certeza que precisa o dia

por isso os cachorros não sabem

e sempre serão as melhores companhias

porque me ensinaram que até o inferno

é uma condição passageira

a vida é o tempo que não recebemos.



Venço a noite quando acordo.

Paraíso é encontrar o que já chegou

mesmo que seja um amanhã distante

mesmo que seja o calor que situa os Homens e a vida

mesmo que seja a decisão:

é preciso rasgar as cartas de amor.

Em nome do Amor

revelações escondidas virão

em nome do Amor

não me arrependerei se outras cartas virão

pela vida

eu escreverei.

A Vida vem em capítulos.








































sexta-feira, 5 de julho de 2013

Conversa de travesseiro


O dia que caminhava solto
ou eu que estava tão longe?
Queria
como queria
a paz do sol
que esconde o monte
deixa a rua tranquila
tela de azulejos cor- de- céu
bela decoração postiça.

Ainda. Não, não tinha.

Perto da terra
(quando desço)
vejo
o muro
muro alto
silencio duro que separa homens e pesadelos
presente de Prometeu.

Crônica da caneta preta:
esFÉrográfica
esperográfica
iluminográfica
silenciográfica
remendográfica
amanhãgráfica
ou
caneta tinteiro dos homens que brincam com a natureza de Deus.

Finda o dia.

Líricas veredas
cronologia do meu tempo de espera
e tudo que seja amar
amando, não seja destruição da natureza.
Jaz a conquista do pretérito perfeito.

Tudo que se faça necessário:
conversa ao contrário
redemoinho de gente
jato de dente
sorriso de mãe dos homens.

Penso na cama
templo da gente
não falo de sexo
sempre, sempre: ingrediente do elemento ausente.

A paz dos poetas mortos
vivos enquanto poesia
angústia da estrela muda.
Muda o verbo
que a gente muda
entende?

Lá fora
alguém fez doce
a cozinha cantou
e não era domingo.
Era dia de manhã
uma sexta-feira qualquer
açúcar, goiaba e romance.

Preciso chegar em casa à colheradas
vencer o mal da tentação dos homens:
além do fio e da calda.

Lá fora
na esquina
teve  realejo
anjos falsos e cataventos
policial engenhoso
oferecendo carona na viatura
teve nuvem bordando no céu minha caricatura
teve tudo
teve mãe e filha
e eu sozinho
atravessando a avenida
vi na padaria a criança chorando
a mãe quis o pão
a criança não.
Chorava a criança
como chorava Carolina
chorava também o doce
por não ter a menina.

Lá longe
o remendo do fundo dos homens artistas
caiu em prece de oração e poesia
versos que pedi e componho:
conversa de travesseiro antes do sono
embala o sonho.

Meu tanto!






segunda-feira, 10 de junho de 2013

Felicidade talvez




O escravo em vida sofrida
certo do signo que nasce
à Morada pede a liberdade. 


As cartas dos que pedem o pão
com a fome fisicamente presente
o que existe é sacrificar a extensão
da fome ali concluída. 


Mas em vida
basta chorar se viver é tudo que tenho?


Travessia. 


Noite grande que não cabe meus pés
a manhã desponta sem analogias
vejo-a intimamente
como os romanos que invadiam almas e línguas
a manhã está cravada pela carranca
assombração que cura o mal olhar. 


Mentira é o que te ensinam
como se você de nada soubesse
te ensinam a por concreto nas paredes
apertando o caráter
mas não te ensinam a essência da paisagem
a isso, quem ensinará? 


Acordar é uma realidade nobre
sem retoque
é ouvir a manhã em prece
fazer-se parte dela
porque todos somos manhãs
em alguma parte da vida. 


Ferido, rastejo como o lagarto tinteiro.
Fui alvejado pelas estatísticas dos que morrem:
a rádio diz que o número de mortos é superior a do ano passado
e o ano que vem será maior que esse ano
assim como a estatística dos carros roubados
dos homicídios qualificados
dos arrastões em condomínios de luxo. 


Na sequência dos que morrem
o slogan sensual e atraente
é carro chefe da próxima atração:
o medo ao próximo da esquina
ao entregador de jornais do farol
 faz desacreditar dos Homens
e  sentir-se feliz e protegido por comprar o seguro contra acidentes pessoais
a consagração é definitiva: nunca se sabe quando vai precisar de um.


A rotina é pronome conjugado na 1ª pessoa.


A julgar pela essência
em plenitude todos somos como Paulo nas areias de Damasco
tateando com ignorância
em redenção latente
em qualquer Av. Paulista, Via Anchieta ou Marginal Pinheiros.


Somos o que não devemos obedecer
e só a calma nos livrará de não morrer em silêncio.
A calma é o Santuário do pertencimento.


O rio acima da cabeça dos homens é pequeno.


Ontem eu acordei porque a noite em mim não bastava
as ruas eram estreitas conexões de um modelo falido de civilização.
Por ali as pessoas tinham apendicite
faziam inalação
tinham gordura no fígado. 


A rua onde cresci tornou-se um salão desconhecido para mim.
Os terrenos onde jogava fubeca
taco
gol-a-gol
viraram apertados empreendimentos residenciais
que engoliam  em cada esquina
a memória viva de mim.
Ali onde eu brincava
sapateava a ambição.
A igreja só não foi vendida
porque lotearam o terreno da escola. 


No desejo de viver
e sempre continuar
encontrei a calma como contradição do tempo
num íntimo prazer das coisas
encontrei ruas abaixo
o tabuleiro da baiana
com seus assados ( pães, batatas,bolos)
cocadas, banana frita e caramelada
canjica e flores repentinas
todos os presentes dos antepassados
 a sabedoria transfigurou o ditado:
está além do que se vê.

Basta um sorriso onde descansar o travesseiro. 


No terreno ao lado
longe da especulação
eu vejo a enxada
e a beleza das coisas a partir delas mesmas.
O que o leigo vê enxada ou rastelo
é técnica escondida
é pulso sereno
é o quarto das coisas humanizadas
guardada para quem tem olhos de ver.
Para quem não tem
a ambição resguarda a possibilidade de um empreendimento comercial

com um piso reto de quartzo branco.


Sim, há pigmeus defensores da mediocridade
assim como humanos separados da humanidade
e estrelas famintas de luz.              

Cifras que castigam o sol.


Escuridão é descobrir  que seus ídolos
eram anjos que devoravam seus sonhos.
No escombro da decepção
alimentei o que protagonizamos lado a lado
e vi pulsar o coração do Sol. 


Então, exilou a palavra
engajada
caindo do alto a hierarquia da ignorância:
viver
achar que vive
viver em vida
e então
a harmonia.
Felicidade talvez?